Radiações não ionizantes: entendendo seus efeitos

Nas postagens anteriores, buscamos apresentar a vocês métodos para diagnósticos e tratamentos de patologias que utilizam as radiações não ionizantes, das quais trazem um menor efeito biológico ao paciente em comparação aos métodos que fazem uso das radiações ionizantes.

Agora, apresentaremos possíveis efeitos biológicos que o uso destas radiações não ionizantes podem trazer tanto aos pacientes submetidos aos tratamentos citados anteriormente, quanto a todos nós, que estamos a todo momento em contado com este tipo de radiação, por meio de celulares, rádios, lâmpadas e principalmente o Sol.

A grande variedade de radiações não ionizantes na qual convivemos em nosso dia a dia, faze com que os efeitos relativos à exposição a cada uma delas dependam de diversos fatores, como tempo de exposição, intensidade, tipo de radiação, etc.

Analisando, por exemplo, as ondas eletromagnéticas, observamos que quando interagem com o meio biológico, transferem energia a este meio. No caso das radiações de radiofrequência e micro-ondas, esta troca de energia ocorre principalmente entre o campo elétrico e as moléculas polares de água, fazendo com que os tecidos, músculos e pele, que contém grande conteúdo de água, absorvam uma quantidade maior de energia quando comparados a tecidos como ósseo e adiposo, que contém menor quantidade de água. Quando esta energia é absorvida pelo material biológico, é transformada em energia cinética nas moléculas, fazendo com que haja um aquecimento na região irradiada e criando focos de calor no interior do tecido.

Dois fatores muito importantes para sabermos o quanto de energia este tecido está recebendo são a absorção e a reflexão de um campo eletromagnético pelo corpo, ambos dependendo das suas dimensões e do seu comprimento de onda da radiação. Para este segundo, sabemos que para um determinada densidade de potência, quanto maior o comprimento de onda da radiação incidente, maior a sua profundidade de penetração no tecido biológico.

A partir da ideia de que, sabendo a forma e características do corpo irradiado e da maneira que este foi exposto, podendo calcular o quanto de energia este corpo absorve, criou-se a taxa de absorção especifica (SAR – Specific Absorption Rate), que auxilia os especialistas na quantificação dos efeitos das radiações de micro-ondas e radiofrequência. A SAR é calculada como a taxa de absorção de energia por unidade de massa do corpo exposto, e é a medida da energia absorvida, que pode ou não ser dissipada em forma de calor (Michaelson, 1982).

Munidos destas informações, diversos estudos comprovaram que órgãos e sistemas orgânicos podem sofrer distúrbios de funcionalidade ou modificações estruturais quando entram em contato com micro-ondas ou radiofrequência. Estes efeitos observados podem ser considerados normais quando não trazem nenhuma alteração anormal ao organismo, afinal, um efeito nem sempre constitui um prejuízo; ou considerados realmente ou potencialmente prejudiciais.

Podemos classificar os efeitos biológicos como sendo térmicos (onde há alteração causada pelo aquecimento do organismo e podem ser obtidos a partir de técnicas convencionais de aquecimento) ou não térmicos (resultado da interação direta do campo eletromagnético da radiação com o organismo). O efeitos térmicos são predominantemente fruto da exposição aos campos eletromagnéticos de alta frequência, e o problema não é o calor gerado dessa forma, mas sim o seu excesso.

Regiões como o cristalino e os testículos são exemplos de regiões corporais que sofrem com o efeito térmico gerado pelas altas frequências das ondas eletromagnéticas. O cristalino apresenta algumas características que o tornam suscetível a danos fruto da exposição a esse tipo de radiação: é envolvido por meio aquoso, fica em posição superficial, tem vascularização reduzida, etc. A elevação térmica do tecido pode causar a catarata, patologia conhecida por opacar o cristalino. Já na região dos testículos, as características que fazem com que ele se torne alvo de dano devido à exposição são: a grande sensibilidade ao calor por parte das células germinativas e localização superficial em relação ao corpo. O aumento da temperatura, a partir de 37 °C, causa uma diminuição das células intersticiais, podendo levar à esterilidade. Em ambas regiões, estudos mostraram que tanto a exposição com altas densidades de potência quanto as exposições crônicas de baixas densidade de potências podem trazer os danos citados.

Sabemos então, que ocorrem alterações em organismos vivos causadas pela interação deles com as radiações não ionizantes, e que estas dependem principalmente das propriedades dos tecidos biológicos, da frequência e da densidade de potência da radiação e das condições de exposição.  Assim como estes efeitos apresentados podem causar certos danos ao tecido sadio quando expostos de maneira incorreta, estes efeitos também auxiliam em diversos tratamentos e diagnósticos. Então, podemos entender que este tipo de radiação só tem a beneficiar a medicina, desde que seja utilizada de maneira correta e com sabedoria, entendendo os seus efeitos e potenciais danos.

Diversos estudos já foram e continuam sendo realizados sobre os efeitos das radiações não ionizantes no tecido biológico, e muitos métodos de diagnóstico e tratamento de patologias fazem uso deste tipo de radiação. Contudo, assim como as radiações ionizantes, devemos usá-las com cuidado, buscando entender a maneira como agem no organismo.

Referência:

– Michaelson M. Health implications of exposure to raiofrequency microwave energies. British Journal of Industrial Medicine. 1982;

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