Efeitos biológicos da radiação ionizante

Desde a descoberta do raio X e da radioatividade há mais de um século, pesquisas têm aprofundado o conhecimento sobre suas propriedades, interação com a matéria e, consequentemente, aplicações. Muito já se descobriu acerca dos mecanismos biológicos pelos quais a radiação ionizante pode interagir com o corpo humano, sendo tanto útil quanto um potencial risco à saúde do ser humano. 

Quando expostas à radiação ionizante, as células podem sofrer danos devido à ação de eventos físicos, químicos e biológicos, que começam com a interação da radiação com os átomos que formam essas células. O DNA, por exemplo, pode ser comprometido pela ação da radiação.  Se ele sofrer um reparo errôneo ou não ser reparado, gerará um DNA com mutação, e a partir deste, pode ocorrer uma morte celular (apoptose) ou geração de uma célula com mutação viável (somática ou germinativa). Se o reparo do DNA for correto, ele estará restaurado, tendo uma célula normal. 

Os efeitos biológicos podem ocorrer após exposição do corpo inteiro ou de partes do corpo a doses de radiação não necessariamente muito altas. Por isso, deve-se ter cuidado mesmo com níveis baixos de radiação, como no caso do radiodiagnóstico, que podem gerar efeitos menores, mas cumulativos. Esses efeitos podem ser divididos em efeitos somáticos e hereditários. Os efeitos somáticos, são alterações provocadas pela interação da radiação ionizante com qualquer célula do organismo, exceto as reprodutivas, manifestam-se no próprio individuo irradiado. E os efeitos hereditários, são alterações provocadas pela interação da radiação ionizante com as células reprodutivas do organismo, manifestam-se nos descendentes do indivíduo irradiado.  

Os efeitos somáticos classificam-se em imediatos e tardios. Quando há exposições a doses elevadas, manifestando-se os efeitos em tempo curto (aproximadamente dois meses em seres humanos); são os efeitos imediatos (agudos). Por outro lado, quando a exposição é de baixas doses, manifestando-se os efeitos em anos ou dezenas de anos em seres humanos; são os efeitos tardios. Estes efeitos podem também ser classificados em estocástico e determinístico. No estocástico, probabilidade de ocorrência aumenta com o aumento da dose; e no não estocástico (determinístico), a severidade do efeito aumenta com o aumento da dose. 

Outro ponto importante é a radiosensibilidade celular, ou seja, diferentes tipos de células do corpo humano possuem diferentes respostas à radiação. A sensibilidade da célula à radiação é determinada pela sua maturidade, taxa de reprodução e função. Células que estão em constante reprodução são altamente sensíveis à radiação, podendo sofrer morte ou mutação. Já células mais lentas são menos sensíveis e sofrem efeitos de menor severidade; elas precisam ser expostas à radiação bastante alta para sofrerem danos mais graves. 

Portanto, desde o surgimento dos primeiros efeitos biológicos da radiação ionizante, há um grande esforço no desenvolvimento da proteção radiológica que visa restringir a probabilidade de ocorrência de eventos que levem à perda de controle sobre instalações nucleares ou fontes de radiação; controlar as exposições dos indivíduos e a liberação de material radioativo no meio ambiente; e diminuir as consequências desses efeitos casos estes venham a ocorrer. Neste contexto, há a  radiobiologia, que estuda os efeitos da interação da radiação (ionizante) com materiais biológicos, com o objetivo de descrever com maior precisão os efeitos da radiação nos seres humanos para que ela possa ser usada com mais segurança para o diagnóstico e com mais eficiência para a terapia. 

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